O Algarve divide-se em três partes distintas, todas elas de grande beleza paisagística:
- O litoral constitui a maior parte da actividade económica regional. A costa algarvia é, a nível paisagístico, muito diversificada, variando entre costas abruptas, areais extensos, lagunas recortadas, sapais e outras formações dunares. As rochas predominantes são na sua maioria do tipo sedimentar (como é o caso dos arenitos e dos conglomerados). O litoral tem uma baixa altitude e é, essencialmente, constituído por relevos aplanados, dispostos por campinas e várzeas.
- O barrocal é um local de transição entre o litoral e a serra, sendo constituído por rochas calcárias e xistosas. Também conhecida por beira-serra, esta zona é, tradicionalmente, a principal fornecedora de produtos agrícolas do Algarve.
Percursos do Barrocal à Serra do Caldeirão
Um percurso por entre rosmaninhos, tomilhos, estevas, alfarrobeiras e sobreiros, convivendo com a hospitalidade das gentes, que fazem pão de alfarroba ou rolão, o medronho e o chouriço. Encontramos as artes e ofícios locais, testemunhos de um saber antigo. Cestos e tapetes de palmeira-anã, cintos e malas em couro, peças em cobre, ferro, latão ou barro, com trapos, linho ou algodão.
Pelos caminhos desconhecidos encontramos fontes de água cristalinas que antes moveram moinhos e azenhas. A Fonte da Benémola, um paraíso recôndito, situada entre Querença e Tôr. Área protegida de conservação da natureza com ecossistemas de grande importância, tanto do ponto de vista geológico e paisagístico, como em termos da fauna e flora. Um espaço com 390 hectares de grande beleza, rico em espécies arbóreas e arbustivas pouco frequentes no Algarve e com uma exclusividade de animais, que impõem a necessária protecção à vida selvagem da região.
Ao longo da Ribeira da Menalva, que percorre o sítio classificado da Fonte da Benémola, a água conserva uma flora abundante e diversificada, paramos o olhar na beleza singela do salgueiro e do freixo, tamargueiras e folhados, por entre os canaviais, os silvados e os loendros.
Rocha da Pena: Miradouro sobre o barrocal
O Sítio da Rocha da Pena, local classificado que beneficia de protecção ambiental, é um dos melhores miradouros sobre o barrocal algarvio, onde podem contemplar-se curiosidades geológicas e diversas espécies de fauna e flora associadas à região.Localizado entre Benafim e Salir, este maciço rochoso, com extensão superior a 600 hectares e altitude máxima de 479 metros, possui um relevo agreste, de que se destaca uma cornija calcária com 50 metros de altura, e abrange um planalto com cerca de dois quilómetros de comprimento. Espaço geográfico interessante e aprazível onde é possível apreciar uma flora rica e variada, composta por mais de 390 espécies de plantas - endémicas, medicinais e aromáticas - características das formações do barrocal. Destas destacam-se a bonita rosa albardeira, a milfurada, as orquídeas selvagens, o alecrim e o rosmaninho perfumado.Entre os muitos animais que aqui habitam, sobressaem as grandes aves de rapina como a águia de Bonelli, a águia de asa redonda e o bufo-real, mas existem muitas outras espécies a patrulhar o ar, como o abelharuco, que escava o seu ninho nos taludes dos terrenos, o pica-pau-malhado-grande e os chapins. Os coelhos bravos e os ouriços partilham o território com raposas, ginetas, saca-rabos e javalis de pequeno porte. Uma paisagem agreste, que se estende até ao mar distante, convidativa a passeios pedestres. Também os amantes da escalada procuram frequentemente este lugar para a prática da modalidade, tirando partido das escarpas abruptas que a natureza concebeu. As grutas formadas pela acção da água na rocha calcária, também são locais de eleição para explorar e conhecer.
As actividades tradicionais praticadas na área protegida da Rocha da Pena estão essencialmente relacionadas com a agricultura de subsistência e com a pastorícia.A apanha de frutos secos é frequente, pois a Alfarrobeira, a Amendoeira e a Figueira são as árvores características dos solos do Barrocal Algarvio.É frequente observar-se rebanhos de ovelhas e cabras guiados pelo seu pastor.
No topo da Rocha da Pena destaca-se o Algar dos Mouros, uma gruta historicamente conhecida por ter sido ali que os mouros se refugiaram aquando da reconquista de Salir por D. Paio Peres Correia.
Os amuralhamentos de pedra, existentes no topo do sítio classificado, possivelmente da Idade do Ferro, terão sido utilizados outrora como estratégia de defesa. Um portal em arcada e uma chaminé datada de 1827 existentes na aldeia da Penina, além de dois moinhos de vento, conhecidos como os moinhos da Pena, são outros locais de interesse que vale a pena ver.
- A serra, que ocupa 50% do território, é formada, essencialmente, por rochas xistosas e algumas graníticas (neste último caso em Monchique, onde existe um maciço de sienito nefelínico). Os principais conjuntos montanhosos são a Serra de Espinhaço de Cão, a Serra de Monchique (onde se localiza a Foia que tem a maior altitude do Algarve: 900 metros) e a serra do Caldeirão ou Mú.
No norte do Algarve, as serras de Espinhaço de Cão, Monchique e Caldeirão protegem a costa do vento dominante. É a região mais verdejante e fértil, colorida por figueiras, laranjeiras e amendoeiras em flor.
Ao entrarmos na Serra do caldeirão, entramos também no "outro" Algarve, o das gentes genuínas, das artes tradicionais, da excelente gastronomia. A paisagem muda a sua cor à medida que prosseguimos o passeio. O verde das florestas de eucalipto, sobreiro e pinheiro dá lugar aos campos cultivados de trigo e cevada. Por entre os montes ouvem-se ribeiras correndo. Aqui e ali contactamos com as gentes nos labores diários: um tirador de cortiça, um pastor, um moleiro, uma mulher a trabalhar no tear, nas hortas.
Percorremos as ruas estreitas em pedra, admiramos as chaminés, os fornos, os telhados inclinados, os muros caiados, os pátios e os poiais.
Redescobrimos as artes e técnicas que ainda perduram no artesanato local. Um passeio a pé conduz-nos à tranquilidade e o ar puro transporta o aroma da esteva, do rosmaninho e do mato. Para satisfazermos todos os nossos sentidos, só falta provar o queijo, o vinho, a aguardente, os enchidos, o pão e as filhós.
A Serra é o verdadeiro Algarve desconhecido, intacto e cativante. Promessas de aventura concretizam-se ao palmilhar serras e montes, ao contactar com os habitantes e conhecer hábitos seculares.
Aqui se descobre o folclore algarvio, dança e música popular onde usam roupas e instrumentos muito próprios entoando sintonias alegres.
Durante os meses de Verão estes grupos actuam em diversas Festas e Romarias por todo o Algarve.
Conhecer a produção de aguardente de medronho e licores diversos é algo a não perder.
Os concelhos de Tavira, Silves, Lagoa e Portimão, são característicos pelos seus pomares.
Todavia é habitual encontrar laranjas do Algarve à venda até à beira das estradas e deliciar-se com o seu sumo dourado e doce como o mel.
O figo, a amêndoa e a alfarroba também são típicos do Algarve e constituem um dos principais ingredientes da doçaria regional.
Ategina
nota: o que está a sublinhado contem foto do local
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Uma noticia relacionada com o nosso Algarve desconhecido.
E ainda há quem por iniciativa própria, em nome da preservação da natureza, se dedica a estudar e identificar várias especies de pássaros. Bem haja!
António e os pássaros
Dono de um café num bairro residencial de Faro, António Marques, 46 anos, tem um hobby singular, de que será único praticante em Portugal: recolhe aves selvagens mortas, retira-lhes a anilha e, nessa base, traça a história do animal.
Dono de um café num bairro residencial de Faro, António Marques, 46 anos, tem um hobby singular, de que será único praticante em Portugal: recolhe aves selvagens mortas, retira-lhes a anilha e, nessa base, traça a história do animal.
Mas para que isso aconteça, o homem que há 25 anos anilha e "desanilha" pássaros no interior algarvio comunica o achado à central de anilhagem do país onde o animal foi marcado e espera pela sua ficha, uma espécie de bilhete de identidade da ave.
"Só preciso de saber o número da anilha e envio-lhes a data e o local da recaptura. A partir daí, recebo os dados relativos à ave quando foi anilhada, isto é, o seu peso, sexo, idade, cor e a data em que foi anilhada", precisa António Marques, que estima em cerca de 200 as recapturas que fez até hoje.
A anilhagem de pássaros - a que Marques também se dedica - permite aos cientistas estudarem o movimento e hábitos das aves selvagens, tarefa que em Portugal está a cargo do Centro de Estudo de Migrações e Protecção de Aves (CEMPA), criado em 1976, que funciona no âmbito do Instituto para a Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB).
Na Europa, a actividade e os seus frutos científicos são centralizados no EURING (União Europeia para a Anilhagem de Aves), que coordena as anilhagens no Velho Continente e Norte de África.
Paladino das recapturas por simples interesse científico, coleccionador de "fichas de vida", vale a António Marques uma grande rede de conhecimentos que lhe permitem ter acesso aos cadáveres das aves selvagens, sobretudo entre os caçadores.
"Sei muita coisa por causa dos caçadores, às vezes há um que me conhece ou que conhece alguém que me conhece e acabo por ficar com a anilha", explica o comerciante, ex-polícia, ex-emigrante na Suécia, sem formação científica na área.
Ressalva que nem sempre a sua actividade é vista com bons olhos entre os homens da caça, às vezes têm medo de lhe dar o aro metálico, pensam que os vai denunciar às autoridades ou aos ambientalistas, que os acusarão de terem matado o animal.
Mas não: António Marques só quer ter na sua posse a ficha da ave e para isso comunica o achado por e-mail ao país cujo código aparece no aro.
Na melhor das hipóteses, passados poucos dias recebe a ficha da ave, explica António Marques: "Os russos, alemães e holandeses são os mais rápidos nas respostas", aponta, esclarecendo que dá sempre conhecimento dessa circulação de fichas ao CEMPA.
"Os piores são os espanhóis, chegam a demorar três anos", esclarece, satisfeito por, apesar de tudo, responderem sempre; "Nunca fiquei sem uma resposta, qualquer que seja o país isto funciona sempre".
Conhecedor das características dos movimentos migratórios das aves que circulam entre a Europa e África, António Marques sabe que, em qualquer recaptura, terá mais hipóteses de que o animal tenha sido anilhado no centro ou leste europeu.
O seu "recorde", materializado numa ficha que mostra com orgulho mal disfarçado, é um minúsculo pisco detectado em São Brás de Alportel, Algarve, que lhe chegou às mãos a 21 de Fevereiro de 2006, com a anilha XL87523, de origem russa, na pata.
"Se nos limitarmos à distância em linha recta, aquela ave pequeníssima percorreu 4.000 quilómetros, mas na rota das aves, isso implica que percorreu o triplo, 12 mil quilómetros", calcula.
Praticamente todas as espécies migratórias de aves selvagens fazem da Península Ibérica local de passagem, depois de passarem o Verão no Leste europeu, antes de se abalançarem até África, no Outono.
Movimentos que nem sempre podem ser percebidos com base nas anilhas de animais já mortos; "Tivemos um verdilhão anilhado aqui, na Fonte da Benémola (Loulé) em 6 de Agosto de 1994 e que foi encontrado morto em Boliqueime a 22 de Dezembro de 2006. Viveu 12 anos e veio morrer ao sítio onde foi marcado com poucos meses de vida", constata.
Mas nem só de aves que completaram o ciclo de vida se faz o cardápio do comerciante de Faro: algumas aves maiores detecta-as ele com os seus binóculos, aponta o código das suas anilhas, inscritos em letras suficientemente grandes para serem visíveis ao longe.
Depois, pede a ficha do animal ao EURING, um autêntico "curriculum vitae" que descreve todos os locais onde a ave foi avistada.Por exemplo, um flamingo que avistou em 2 Abril deste ano na ria de Alvor tinha uma extensa ficha em que se incluía a anilhagem em França a 26/07/2006, um novo avistamento a 23 /12/2006 na ria de Alvor, um outro a 04/03/2007 na Lagoa dos Salgados e, já depois da detecção de 2 Abril em Alvor foi de novo visto nos Salgados 20 dias depois.
Além da detecção de aves anilhadas, vivas ou mortas, António Marques dedica-se também à anilhagem, uma actividade que os ornitólogos consideram indispensável para os estudos científicos.
Já há 25 anos que, mal se consegue libertar do trabalho no café, António Marques ruma à Fonte da Benémola, onde se encontra com os seus amigos da associação ambientalista algarvia Almargem.
Por ali, meia dúzia de entusiastas que trabalham a troco de nada, capturam, anilham, pesam, medem, anotam e libertam verdilhões, guarda-rios, pica-paus, pintassilgos e outros pequenos pássaros, que um dia serão recapturados, vivos ou mortos, e ajudarão a construir uma pequena mas decisiva parcela do conhecimento humano.
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