sábado, março 07, 2015

quinta-feira, junho 07, 2012


DEUSA DA JUSTIÇA E DA SABEDORIA

PALAS ATENA. 
reprodução. Palas Atena, de Gustav Klimt



quinta-feira, maio 31, 2012


ATAEGINA
A Deusa Mãe

Atégina ou Ataegina é a Deusa do renascimento, pois o seu nome é de origem celta e significaria renascida, ou seja, esta era uma Deusa ligada ao culto da fertilidade que tal como os frutos da terra que renascem todos os anos, também desaparecia sazonalmente no submundo para poder renascer. Também Deusa da natureza e da cura na mitologia lusitana. Viam-na como a Deusa lusitana da Lua.
Não se sabe ao certo qual a origem do seu culto, provavelmente era uma Deusa indígena que foi primeiro celtizada, tal como indica o seu nome e depois romanizada. Esta Deusa acabou por ser conotada pelos Ibero-Romanos a Proserpina e a Libera. Com Proserpina, tinha a semelhança de ser Deusa da fecundidade dos campos e dela acabou por ganhar o carácter infernal que tinha como mulher de Plutão. Libera por seu lado era a primitiva Deusa da fecundidade agrária, irmã de Liber (Baco). Atégina acabou assim por ficar associada a estas duas Deusas do panteão romano. 
Para além do facto de ser uma Deusa da fecundidade, ligada ao renascimento da natureza e ao germinar das sementes, o seu carácter infernal fazia com que se lhe fossem consagradas devotio. A devotio era uma cerimónia religiosa que tinha como objectivo fazer mal a alguém convocando através de fórmulas as divindades infernais para que se apoderassem dessa pessoa. Esta devotio servia para lançar uma maldição, que poderia ir de pequenas pragas à morte. O animal consagrado a Atégina era o bode ou a cabra.
Estão também atribuídas a esta Deusa características de Deusa infernal, pois foi encontrada uma inscrição de devotio na qual se lê “Dea Ataecina Turi/brig(ae) Proserpina /per tuam maiestatem / te rogo oro obsecro / uti vindices quot mihi /furti factum est; quiquis / mihi imudavit involavit / minusce fecit [e]a[s res] q(uae) i(nfra) s(criptae) s(unt) /túnicas VI, [p]aenula / lintea II, in[dus]ium ~rabo~/ius I. C…m ignoro i…ius.” (Deusa Ataecina Turubriga Proserpina, pela tua majestade eu peço, rezo e imploro que vingues o roubo que me foi feito. Quem quer que me tenha subtraído, roubado, pilhado as coisas abaixo vão descritas: seis túnicas, dois mantos de linho, uma peça de roupa interior…).
Atégina e Endovélico, formavam um par divino que reinava nos Infernos.
Em algumas inscrições, esta Deusa acabou também por aparecer ligada à medicina, sendo apelidada pelos dedicadores de Servatrix, ou seja, conservadora da saúde dos homens. Tal como ao Deus Endovélico, também era vasto o grupo de pessoas que se dirigiam a Atégina, escravos, homens livres, indígenas e romanos.
Em algumas inscrições o nome da Deusa aparece apenas representado por um A, o que mostra a familiaridade com esta Deusa e vários são os epítetos a ela atribuídos, tal como Dea, Domina, Sancta, Invicta, Servatrix, provando assim a sua importância. Muitas vezes esta Deusa é representada com um ramo de cipreste.
Atégina era venerada na Lusitânia e na Bética, onde existiram santuários dedicados a esta Deusa, especialmente em Turóbriga, de onde seria natural, cidade que segundo Plínio se situava na Beturia Céltica, região na margem do rio Guadiana. Também em Elvas (Portugal), Mérida e Cáceres, na Extramadura espanhola, além de outros locais, especialmente perto do Rio Guadiana, esta Deusa era venerada. Ela era uma das principais Deusas em locais como Myrtilis (Mértola dos dias de hoje), Pax Julia (Beja), ambas cidades em Portugal.





quarta-feira, setembro 21, 2011

Sozinho...sempre e nunca!


Nunca Me Tinha Apaixonado VerdadeiramenteEscrevi até o princípio da manhã aparecer na janela. O sol a iluminar os olhos dos gatos espalhados na sala, sentados, deitados de olhos abertos. O sol a iluminar o sofá grande, o vermelho ruço debaixo de uma cobertura de pêlo dos gatos. O sol a chegar à escrivaninha e a ser dia nas folhas brancas. Escrevi duas páginas. Descrevi-lhe o rosto, os olhos, os lábios, a pele, os cabelos. Descrevi-lhe o corpo, os seios sob o vestido, o ventre sob o vestido, as pernas. Descrevi-lhe o silêncio. E, quando me parecia que as palavras eram poucas para tanta e tanta beleza, fechava os olhos e parava-me a olhá-la. Ao seu esplendor seguia-se a vontade de a descrever e, de cada vez que repetia este exercício, conseguia escrever duas palavras ou, no máximo, uma frase. Quando a manhã apareceu na janela, levantei-me e voltei para a cama. Adormeci a olhá-la. Adormeci com ela dentro de mim. 

Nunca me tinha apaixonado verdadeiramente. A partir dos dezasseis anos, conheci muitas mulheres, senti algo por todas. Quando lhes lia no rosto um olhar diferente, demorado, deixava-me impressionar e, durante algumas semanas, achava que estava apaixonado e que as amava. Mas depois, o tempo. Sempre o tempo como uma brisa. Uma aragem suave, mas definitiva, a empurrar-me os sentimentos, a deixá-los lá ao fundo e a mostrar-me na distância que eram pequenos, muito pequenos e sem valor. E sempre só a solidão. Sempre. Eu sozinho, a viver. Sozinho, a ver coisas que não iriam repetir-se; sozinho, a ver a vida gastar-se na erosão da minha memória. Sozinho, com pena de mim próprio, ridículo, mas a sofrer mesmo. Nunca me tinha apaixonado verdadeiramente. Muitas vezes disse amo-te, mas arrependi-me sempre. Arrependi-me sempre das palavras. 

José Luís Peixoto, in 'Uma Casa na Escuridão'