No dia 31 de Maio, a partir das 17h30, têm lugar, em Santa Luzia, no Centro Comunitário da Associação Âncora, as comemorações do Dia Nacional dos Pescadores.
A sessão de abertura, marcada para as 17h30, contará com a presença do presidente da Junta de Freguesia de Santa Luzia, para logo de seguida, às 17h50, se seguir uma pequena intervenção Intervenção da Associação de Armadores e Pescadores de Tavira (APTAV).
Às 18h00, a palavra pertence ao Director Regional Adjunto de Agricultura e Pescas do Algarve, Pedro Valadas Monteiro, que vai falar aos presentes sobre os "apoios para o sector das Pescas no âmbito do PROMAR".
No final desta intervenção, terá lugar um debate entre os presentes, seguido de uma intervenção de homenagem aos pescadores feita por Macário Correia, presidente da Câmara Municipal de Tavira.
Depois da intervenção de Macário Correia, segue-se um convívio entre os presentes.
Nesta comemoração do Dia dos Pescadores, que se realiza há nove anos em Tavira, será ainda apresentada uma exposição de pintura subordinada ao tema da pesca.
"Esta data é comemorada não só com o intuito de valorizar a profissão e de ajudar os homens do mar na compreensão de novos conhecimentos e desafios que as exigências do futuro lhes reservam, mas, também, devido à importância que este sector representa na economia local, regional e nacional", refere a nota de imprensa da autarquia.
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Sendo uma palavra quase artesanal, com muita pena minha, o pescador está sem dúvida, quase extinto,por culpa dos federastas que nos colocaram na miséria em todas as áreas, não só nas pescas, como na industria, no minério, na agricultura. Os nossos recursos foram destruidos para vivermos de esmolas da união europeia, uma união de malfeitores. A visão que tenho é simplesmente que todas as nossas profissões mais antigas, como o pescador, o agricultor, o mineiro, o operário (mais tardio), passem para peças de museu.
Faço uma Homenagem à Profissão, aos Homens de Aço: OS PESCADORES!
PEQUENAS NOTAS PORES DO SOL Se eu fosse pintor, passava a minha vida a pintar o pôr do Sol à beira-mar. Fazia cem telas, todas variadas, com tintas novas e imprevistas. É um espectáculo extraordinário. Há-os em farfalhos, com largas pinceladas verdes. Há-os trágicos, quando as nuvens tomam todo o horizonte mm um ar de ameaça, e outros doirados e verdes, com o crescente fino da Lua no alto e do lado oposto a montanha enegrecida e compacta. Tardes violetas, oeste ar tão carregado de salitre que toma a boca pegajosa e amarga, e o mar violeta e doirado a molhar a areia e os alicerces dos velhos fortes abandonados ... Um poente desgrenhado, mm nuvens negras lá no fundo, e uma luz sinistra. Ventania. Estratos monstruosos correm do forte. Sobre o mar fica um laivo esquecido que bóia nas águas – e não quer morrer... Há na areia uns charcos onde se reflecte o universo – o céu, a luz, o poente. Não bolem e a luz demora-se aí até ao anoitecer. E como o poente é oiro fundido sobre o mar inteiramente verde, que a noite vai empolgar não tarda, os charcos, entre a areia húmida e escura, teimam em guardar a luz concentrada e esquecida. Em todo o dia, o mar não se viu nitidamente. Névoa esbranquiçada, grandes rolos de poeira e sol misturados, água de que se exala um hálito verde envolvido nas ondas. Por fim, o Sol desceu e um nevoeiro imprevisto entranhou poalha de oiro no mar esverdeado, fantasmagoria e sonho nesta frescura extraordinária. Agora este, teatral, com largas gambiarradas, franjadas a oiro, acabado de pintar pelo cenógrafo para uma apoteose, e outro que não sei descrever, feito com muito pouco: quase desmaiado, um nada de luz no mar efémero, um nada de luz no céu efémero e a montanha roxa ao fundo prestes a desvanecer-se... Agora é prata, daqui a pouco é oiro, e quando o Sol desaparecer de todo, ainda o horizonte fica por muito tempo iluminado. Oiro desvanecido e pó de água que ascende do mar. Um pouco de névoa e dois jactos projectados no céu – verde e oiro, oiro e verde. Esta tarde, o Sol põe-se sobre uma barra e aparece deformado, entre grandes manchas de nuvens acobreadas. Some-se, e ressurge por fim como um grande balão de fogo num oceano revolto, até que entra numa grande nuvem espessa com interstícios de fogo e explode, iluminando o espaço e a água cor de chumbo. Este faz sobressaltar e sonhar. Três horas da tarde. Céu limpo, mar manso, e sobre o mar uma chapada de prata, sobre o verde, mil escamas a cintilar, que brilham, luzem e tornam a reluzir. O Sol desce pouco e pouco, majestoso e sereno, no céu todo doirado e a luz forma uma estrada que liga o areal ao infinito, uma estrada larga, de oiro vivo, que começa a meus pés, na espuma ensanguentada, e chega ao Sol. Ó meu amor, não acredites na vida mesquinha, não duvides: dá-me a tua mão e vamos partir por essa estrada fora direitos ao céu! O NEVOEIRO Sol e azul e depois névoa. Às vezes começa em Agosto, outras em Setembro. Uma barra ao longe anuncia-a, uma barra que cresce em fumarada sobre a terra, ou que se dispersa correndo para o sul, em labaredas sobre o mar esverdeado. Há outras névoas no Verão que se descerram lentamente como cortinas, ficando o panorama límpido como uma aguarela acabada de pintar. Outras têm léguas de extensão e levam dias a passar. E o mar exala um cheiro mais vivo quando o nevoeiro parece dissolver-se, para logo voltar mais denso e compacto. Às vezes vê-se entre a neblina um ponto da costa cheio de luz, um rasgão no mar, uma única pedra iluminada entre o céu infinito e o mar infinito.
Tenho visto também umas névoas esbranquiçadas que ficam lá para muito fundo embebendo-se de luz. Névoa, um pouco de sol e brancura, tudo emborralhado. A onda vem de longe, irrompe da névoa, e só se vêem os grandes rolos brancos revolvidos de espuma muito ao perto quando se despedaçam.
Em Sagres assisti a um nevoeiro extraordinário. Aparecem primeiro uns flocos no céu, e a luz tomou-se logo mais azul, pegando azul à pele, molhando de azul as mãos estendidas. Depois a névoa, que no Verão dura segundos, doirou e subiu ao ar, tornando o horizonte mais ilimitado e fantasmagórico...
As névoas anunciam o Inverno. Começam a vir os nevoeiros compactos, que se metem pelas narinas e cheiram a mar e a fumo. Há-os que têm léguas de espessura e levam dias a passar, coortes desordenadas de fantasmas enchendo todo o horizonte. O sino tange. Não se vê palmo diante do nariz. Lá fora os barcos, como cegos, só se guiam pelo som. 0 mar é um misterioso fantasma que os envolve. Cerração cada vez mais mole e espessa... Só a voz se ouve, e o lamento parece vir de mais longe e de mais fundo. Às vezes adelgaça-se um pouco na costa, e grandes rolos de fumaceira crescem do mar sobre a terra. É o Inverno que vem aí. A voz imensa tem já plangências de dor – desabar infinito de lágrimas. De sul para o norte as nuvens correm sempre, coortes sobre coortes que saem das profundas e avançam, deslizam sobre as águas sem ruído, enchendo o céu de farrapos enormes, de fantasmas criados naquele mar salgado e que se seguem em tropel num galope monstruoso para uma grande batalha desconhecida. E de quando em quando o sino chama, chama sempre pelos homens perdidos na névoa espessa que leva dias a passar.
REDES Na Foz são os pescadores que fazem as redes, sentados no areal, com a primeira malha metida no dedo grande do pé, na mão direita a agulha com o fio e na mão esquerda o muro. As melhores redes eram as de ticum e o melhor ticum o que se vendia em Lordelo. As redes são muito variadas. Há as redes da pescada; as robaleiras para o robalo na restinga e fora da barra; os quartos para o sável; e para a solha que vive na areia e cor da areia, uma rede especial, a feiticeira, com duas ordens de malhas. A rede, quando vem do mar, é lavada; seca e encascada. Depois remenda-se e mete-se nos cestos. Há também diferentes linhas e espinéis, para a faneca, para o robalo, que gosta das águas remexidas e dos sítios onde rebenta a onda, para a enguia, que é tão voraz que nem precisa de anzol, apanha-se com engodo, e até para o congro, no mar alto, tendo-se o cuidado de levar um machado, porque esses peixes, quando grandes, são terríveis, e mesmo dentro do barco, levantam-se para os homens como feras. Barcos, houve na Foz catorze catraias (já não há nenhuma), batéis para a sardinha, que levavam quatro homens e seis peças, botes para a faneca e gamelas para o serviço do rio. Tenho por estas quatro tábuas com o fundo chato uma especial predilecção. Foi nelas que aprendi a gingar, o que se faz só com um remo e certo movimento de pulso, e foi nelas também que aprendi a nadar à força, porque se voltam na ressaca com uma extrema facilidade. Quanto a quinhões, era assim: vendido o peixe, metade do dinheiro que a mulher do pescador ganhava com a canastra tomava conta dele o arrais, que o dividia em quinze partes para os homens, uma para o moço e duas para a embarcação. Assim, até os que por sorte não apanhavam peixe tinham um quinhão garantido do mealheiro comum. Ficava ainda uma pequena parte nas mãos do arrais para o tempo de Inverno, quando se não podia ir ao mar. PÁRAMOS Estava na carreira de tiro em Esmoriz. Não via o mar, mas sentia-o no peito dilatado. Perto de mim, uma moita de pinheiros novos; e as agulhas escorriam molhadas de fresco. Uma nora, um choupo. Ao longe, as barracas de madeira agrupadas – Páramos. Uma gaivota pairando sobre um charco... Para o outro lado, campos lavradios com milho rasteiro que sabe a ar salgado, casas de lavradores perdidas entre sebes, de telhados muito baixos onde secam abóboras amarelas. Aqui, o pescador vive em barracas de madeira que têm o aspecto de povoação lacustres. Em certos dias iça-se o camaroeiro e a este sinal, esperado no interior das terras, começam a aparecer pelos caminhos empapados, dirigindo-se para o mar, as pesadas juntas de bois levadas à soga pelas moças. O lavrador associa-se ao homem do mar. Nesses dias larga o arado e toma parte na companha, ajudando a alar a grande rede que se usa para estas bandas e que as bateiras lançam à água. É um espectáculo extraordinário ... Isto está de todo apagado nos meus apontamentos, mas ainda hoje, depois de tantos anos, tenho a impressão da paisagem de areal e pinheiros, do hálito azul matutino molhando a vegetação e da claridade hesitando em pousar e o sol em aquecer. Há manhãs à beira-mar em que tudo parece um pouco de tinta muito leve e mais nada. Um pouco de tinta e frescura. A própria luz molhada estremece. O doirado tem muita água e desbota. Uma gota de azul basta para o mar e o céu. E a manhã, trespassada e a escorrer, nascida e hesitando, faz medo que se desvaneça como fantasmas de manhã. NO CABEDELO O Cabedelo para mim era o deserto cheio de prestígio e de aventuras... Era no Cabedelo que tomávamos os melhores banhos, deitados na areia, deixando vir sobre nós a vaga num rodilhão de algas e espuma. Andar um momento envolvido na crista da onda, ser atirado numa sufocação sobre a areia, correr de novo para o mar, direito à vaga que se encapela lá no fundo, formando concha, outra vez aturdido e impregnado de uma vida nova; e depois procurar, a escorrer, um côncavo quentinho de areia que nos sirva de abrigo contra o vento e secar-se a gente naquele lençol doirado – é uma das coisas boas da terra. E outro prazer simples e extraordinário E ir descalço pelo grande areal fora com os pés na água. A onda vem, espraia-se, molha-nos e salpica-nos de espuma. Calca-se esse mosto branco e salgado, que gela e vivifica, e caminha-se sempre ao lado dos sucessivos rolos que se despedaçam na areia. Ao longe o mar chapeado de placas movediças... A onda vem, cresce e, antes de se despedaçar em espuma, o sol veste-a de uma armadura de aço a reluzir. Há-as de um esverdeado de alga morta, há-as que se derretem e fundem em torvelinhos de branco e há-as que recuam e se enovelam noutras ondas prestes a desabar. Mas há umas, esplêndidas, que vi em Mira, ao pôr do Sol, quando o vasto areal fica todo ensanguentado. A onda forma-se e corre por aquela magnífica estrada que vem do sol até à praia, ganha primeiro reflexos doirados na crista e depois, quando se estira pelo areal molhado, fica cor do vinho nos lagares. Outras vezes percorríamos o Cabedelo a pé como exploradores. Há lá canaviais, poças de água azul e polida, rochas luzidias por onde escorregávamos, peixes nascidos que procuram o refúgio das pedras e a água aquecida para se acabarem de criar, caranguejos nas fisgas e, na vazante da maré, grandes lagos que navegávamos ao acaso, deixando o barco ir à toa e encalhar no areal ... O Cabedelo produz, além das canas, uma espécie de cardo, plantas rasteiras e humildes de folha dura, que dão uma flor pequenina e vermelha, outras que parecem os chapotos que nascem nos velhos muros, e ainda outras mais pobres com a folha em escama pela haste acima. Estes vastos areais, revestidos às vezes de cabelos de oiro que seguram as dunas, estão todo o ano a concentrar-se para em Agosto sair daquela secura e do amargo do sal, um lírio branco que os perfuma, dura algumas horas e logo desaparece.
Raul Brandão
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