quarta-feira, agosto 30, 2006

Exposição retrata a infância de outros tempos em Glória do Ribatejo e O retrato de Salazar

Quando os bebés tomavam banhos em água do cozido







Para prevenir “fraquezas” nas crianças era muito comum dar-lhes banho com água onde se tinha cozido mão de vaca.





Receitas de mezinhas usadas nas crianças de Glória do Ribatejo, como o banho tomado em água de cozido de mão de vaca para “enrijecer”, estão expostas no museu local, numa mostra que pretende recordar a infância naquela localidade.



A Associação de Defesa do Património Etnográfico e Cultural da Glória do Ribatejo recolheu para a exposição “A meninice” centenas de objectos e fotografias que retratam a infância vivida naquela localidade do concelho de Salvaterra de Magos, entre as décadas de 1940 e 1980.



A mostra recorda o nascimento, as mezinhas, as brincadeiras e a vida escolar das crianças de uma comunidade que até há cerca de 25 anos manteve tradições e valores únicos.



Roberto Caneira, presidente da associação, explicou que o isolamento de Glória do Ribatejo e o facto de antigamente os seus habitantes casarem apenas entre si, uma prática designada de endogamia destinada a manter a riqueza dentro das fronteiras da localidade, contribuíram para que a comunidade tivesse desenvolvido “valores antropológicos próprios”.



A comemorar 20 anos, a Associação de Defesa do Património Etnográfico e Cultural quis mostrar como essas diferenças também se reflectiam na infância dos glorianos.



A área da exposição dedicada ao nascimento centra-se na figura de Joaquina “Cuca”, a última parteira da aldeia, falecida nos anos 1980, que até ao final da década de 1970 ajudou nos partos de Glória do Ribatejo.



Estão também expostos os berços em cortiça, as toucas de folhos e os fatos bordados a ponto de cruz que os bebés da aldeia usavam até cerca dos dois anos de idade.



“Essas toucas, bordadas em ponto cruz, que era o único ponto que se bordava em Glória do Ribatejo, ainda foram usadas por pessoas que terão hoje mais ou menos 30 anos”, disse Roberto Caneira. De resto, este como outros costumes da terra mantiveram-se até “muito recentemente, há cerca de 25 anos”, acrescentou.



A Guerra Colonial e a procura de trabalho nas indústrias de Vila Franca de Xira e Castanheira do Ribatejo começaram a abrir a população de Glória do Ribatejo ao exterior.



Ainda “muito presente entre os glorianos” é a prática de mezinhas e orações para curar as crianças de diversas maleitas, como a da Lua.



“Dizia-se, e ainda se diz, que um bebé está com a Lua quando dorme mal, está rabugento e irrequieto, e para isso havia uma oração específica e cuidados como não estender as roupinhas ao luar”, contou Roberto Caneira.



Para prevenir “fraquezas” nas crianças era também muito comum dar-lhes banho com água de cozido. “Para o bebé ficar rijo cozia-se mão de vaca e a criança tomava banho na água do cozido”, contou.



Além desta exposição patente até Julho de 2007 e que pode ser vista mediante marcação ou solicitando a abertura do museu na junta de freguesia, o Museu e sede da Associação para a Defesa do Património Etnográfico e Cultural na Glória do Ribatejo tem ainda uma exposição permanente dedicada à agricultura, bordados e traje das mulheres glorianas.



A associação tem um outro núcleo museológico, que numa casa tradicional, reproduz a habitação dos agricultores locais nas décadas de 1940 e 1950.





O retrato de Salazar



A exposição tem também um módulo dedicado aos brinquedos dos meninos glorianos, “que na falta de dinheiro desafiavam a imaginação” e fabricavam bicicletas de cana com rodas de cortiça e carrinhos com o arame usado para prender os fardos de palha.


Próprios das brincadeiras femininas eram os fornos feitos de argila, onde coziam pão, colares de pinhões ou malmequeres.


Na área dedicada à escola, a exposição recria uma sala de aula dos anos 1950, com o inevitável retrato de Salazar e crucifixo pendurados na parede e a régua e as “orelhas de burro” usadas para castigar os alunos.


Podem ainda ser vistas as fotografias das turmas que entre os anos 1940 e 1980 passaram pela Escola Primária de Glória do Ribatejo.

A infância terminava cedo para os meninos da aldeia, que, concluída a 4º classe, começavam a trabalhar com os pais, sobretudo a guardar cabras.



 

1 comentário:

Anónimo disse...

intiresno muito, obrigado