No outro dia, tive a oportunidade de assistir a uma reportagem cujo objectivo era mostrar a vida das pessoas em Alcoutim, contrastando com o que se passava em Albufeira. Foi, por assim dizer, uma excelente oportunidade para verificarmos, com testemunhos reais, um Algarve com duas velocidades, manifestamente distintas.
Alcoutim e arredores
Vila simpática, à Beira rio e com vista para a vizinha Espanha. Alcoutim, terra algarvia, que nasceu e cresceu na margem direita do rio Guardiana.
A presença humana no território que actualmente existe no concelho de Alcoutim poderá remontar ao Paleolítico Médio, pois foram descobertos vestígios arqueológicos deste período, na freguesia do Pereiro. Mas terá sido a partir do Neolítico (5.000 a.C. a 3.000 a.C) que as populações construtoras de megálitos se fixaram um pouco por todo o território de Alcoutim. Testemunhos dessa presença são os vários exemplos de monumentos megalíticos espalhados pelas cinco freguesias. Antas, menires, tholos ou cistas megalíticas merecem uma visita.
Testemunhos:
Situado entre as povoações das Cortes Pereiras e Afonso Vicente, o Conjunto Megalítico do Lavajo (3500 a.C.) é constituído por um alinhamento de três menires e quatro estelas menires que distam entre si cerca de 250 metros. O local encontra-se devidamente musealizado e com sinalética indicadora. Os objectos ali encontrados poderão ser vistos no núcleo de arqueologia em Alcoutim.
A cerca de um quilómetro, em linha recta, deste local identificou-se um interessante monumento funerário – A Anta do Malhão. A anta está situada no topo da elevação mais proeminente de toda uma vasta região, junto da Estrada Municipal 507 e em frente da povoação de Afonso Vicente. O monumento encontrava-se inviolado, retratando uma situação raríssima, só excepcionalmente verificada em Portugal.
A confirmação da continuidade de comunidades humanas, são as necrópoles de cistas da Idade do Bronze e do Ferro.
Quanto ao Período Romano: são inúmeros os vestígios que nos dão a conhecer a existência de comunidades organizadas em núcleos habitacionais ou núcleos familiares. Sobretudo na zona litoral, onde se situam maioritariamente os melhores terrenos agrícolas, e é comum detectar essa presença romana, onde o Guadiana constituia uma grande atracção como via de penetração das rotas comerciais, que ligavam esta terra a todo o mediterrâneo.
Testemunhos:
Barragem Romana do Álamo e a Villa Romana do Montinho das Laranjeiras. (clique para ver imagens)
A Barragem Romana do Álamo, construída em opus incertum (através de cofragem, onde no interior era depositada uma espécie de “pasta” de areia pedras e argamassa), possui cerca de 40 metros de comprimento e seis contrafortes tendo actualmente a altura máxima de 3 metros (e que deve estar próxima da altura máxima inicial).
Em 1877, quando foi descoberta, detectaram-se igualmente outros edifícios com os quais poderá estar relacionada. Um deles, formado por vários compartimentos, com dois tanques contíguos, é considerado uma oficina, talvez uma tinturaria, a qual exigiria um consumo constante de água. O outro poderá ter sido um templo, dado terem-se encontrado, além das sepulturas escavadas nos pavimentos, restos de três estátuas. A barragem está classificada como Monumento de Interesse Público desde 1991.
Villa Romana do Montinho das Laranjeiras (séc. I a.C. a séc. XII/XIII). Monumento classificado de Imóvel de Interesse Público (2004), tem uma ocupação desde o Período Romano até pelo menos o séc. XII ou XIII. A estação arqueológica apresenta ruínas de compartimentos romanos, uma igreja cruciforme visigótica, com influências orientais do séc. VI/VII, e parte de pelo menos duas casas rurais islâmicas, que poderão ter sido ocupadas até à reconquista cristã no século XIII.
A presença visigótica é evidente em Alcoutim, algumas mesmo, numa continuidade de ocupação dos mesmos espaços romanos, como se pode ver na Estação Arqueológica junto a Montinho das Laranjeiras, sensivelmente a oito quilómetros a sul da vila de Alcoutim.
A freguesia de Alcoutim é constituída por dezassete núcleos habitacionais, ou “montes”: Afonso Vicente, Álamo, Balurcos, Corte das Donas, Cortes Pereiras, Corte da Seda, Corte Tabelião, Cruzamento, Guerreiros do Rio, Laranjeiras, Marmeleiro, Montinho das Laranjeiras, Palmeira, S. Martinho, Santa Marta, Torneiro e Vascão.
O seu castelo (foto aqui) fica no cimo do monte, com uma vista lindissima para o rio e para San Lúcar, vila espanhola. Foi construído nos primórdios do século XIV, durante o reinado de D. Dinis, com a clara intenção de criar numa zona de fronteira uma “linha de detenção”, ou pelo menos de vigia. Anteriormente em ruinas, hoje totalmente restaurado, com jardins e muitas sombras, é um lugar agradável de se passar uma tarde de Verão. Na muralha norte construíram um museu arqueológico,onde está uma exposição permanente do paleolítico até aos canhões medievais, que eram utilizados como protecção do castelo.
Autoria: Ategina
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