Portugal e Espanha assinam acordo para recuperar espécie felina.Uns dariam tudo para o ver, mesmo ao longe e por breves segundos. Outros só sabem dele o que ouviram dizer, quase como se de um mito se tratasse. Há até os que juram tê-lo avistado recentemente, contrariando todas as probabilidades. Mas o que até agora foi privilégio de muito poucos poderá ser acessível a todos no futuro. Portugal e Espanha juntam hoje esforços para fazer retornar à Península Ibérica o felino mais ameaçado do mundo: o lince.Só existem duas populações de lince na península, em Doñana e Andujár, na Andaluzia, contabilizando 150 exemplares. Há dez anos eram mil e avistavam-se no lado de cá, na Serra da Malcata e na de Monchique e do Caldeirão. Na origem da pré-extinção está a fragmentação das populações, a pouca disponibilidade de presas e a regressão dos matagais mediterrânicos devido à reconversão dos solos.
A construção de um centro de reprodução em cativeiro em Portugal é apenas parte de um trabalho conjunto entre entidades espanholas e nacionais. O protocolo hoje assinado prevê ainda a recuperação de habitats naturais e a reintrodução dos novos animais no meio natural. "Somos os guardiões desta espécie e seria uma vergonha dois países desenvolvidos deixarem-na extinguir-se", afirmou ao DN o secretário de Estado do Ambiente. Humberto Rosa atribui a chacota com que em Portugal alguns se referem a esta espécie emblemática ao facto de o lince ser difícil de avistar e da quantidade de exemplares ter declinado drasticamente no passado.O animal abriga-se em locais pouco acessíveis e, nas suas actividades crepusculares e nocturnas, evita o contacto com o homem. A sua contabilização faz-se por métodos indirectos, através de dejectos comprovados com análise de DNA. É em Silves que surgirá no próximo ano o centro de reprodução. A sua construção estará concluída no fim de 2008 e os animais que vão colaborar no processo reprodutivo virão de Doñana em 2009.O momento da sua libertação no espaço natural é impossível de prever pois requer condições muito específicas. Mas não deverá ser antes de 2011. "Não podemos dizer que hoje haja um habitat pronto para acolher o lince", considera o governante, não obstante vários projectos lançados na Serra da Malcata e que aumentaram as presas para o lince, através do repovoamento de coelho bravo, da abertura de pastagens e da criação de abrigos artificiais.Vai ser uma comissão mista a definir os locais da reintrodução da espécie. Numa primeira fase serão lançados num enorme cercado e depois no meio natural. Multiplicar-se-ão os indivíduos destinados a reforçar as populações existentes ou a fundar outras. O facto da população existente ser pequena impede que se consiga preservar todo o património genético actual da espécie, alerta José Paulo Martins, dirigente da Quercus e especialista em conservação. "Muito já se perdeu. Eram milhares de exemplares. Agora são tão poucos que o que os distingue não pode ser muito", afirma. "Quanto maior for a diversidade da espécie, maior a capacidade de resistir a ameaças como doenças ou mudanças climáticas. Pois quando o habitat muda nem todos sobrevivem."
Sem comentários:
Enviar um comentário