Entrudo em Lazarim
A Vila de Lazarim celebra mais uma edição do seu Entrudo, já considerado o mais ancestral e genuíno Entrudo português. Durante os 4 dias de folguedos, a vila transformou-se num palco de cultura, tradição, gastronomia e muita animação..
O Testamento das Comadres, Lazarim, Lamego, Viseu
A aldeia de Lazarim, situada na região Douro Sul, festeja o Entrudo entre comadres e compadres que envergam máscaras artesanais que permitem libertar a devassidão das mentes dos populares sem revelar o rosto dos seus autores, ganhando a identidade de Careto.
As máscaras feitas de Madeira de amieiro pelos artesões locais anunciam o ritual que dá início ao ciclo de festividades que começam algumas semanas antes da Terça-feira Gorda de Carnaval. São feitos os peditórios para construir os "compadres" e preparam-se as deixas do testamento.
Chega-se ao dia em que culminam todos os preparativos e as ruas de Lazarim transformam-se. As paredes de granito gritam o som folião dos caretos que fazem a leitura do testamento, que expõe os defeitos dos rapazes e raparigas, visitam as mulheres que cozinham um manjar colectivo e animam as brincadeiras das crianças.
O compadre e a comadre, os dois de sexo masculino, lideram o cortejo, que alimenta a rivalidade entre sexos, que travam esse ajuste de contas através de tiradas picantes.
O ritual chega ao fim quando o testamenteiro anuncia a morte do compadre e da comadre, sendo estes substituídos por bonecos que são pendurados em troncos de pinheiro. Pega-se fogo aos bonecos e estes acabam por arrebentar diante do tumulto geral.
A festa não acaba porque ainda resta a feijoada de porco, o caldo de farinha e o vinho.
Testamento da Comadre
[ uma rapaz da vila lê o testamento a uma rapariga ]
Olá queridas comadres
Olá grandes feiticeiras
Cá estamos mais uma vez
Para vos tirar as peneiras.
Sois todas umas cadelas
Quase me matais de fome
Senão tivesse vergonha
Tratava-vos por outro nome.
Tende cuidado com o burro
Que ele é abonado
Se a dele não chegar
Tendes aqui mais um bocado
Hoje em dia as raparigas
São de lhe tirar o chapéu
Se lhes tirarmos os trapos
Ficam com os podres ao léu
Olá menina Márcia
Condutora de fim de semana
Não sei qual foi a ideia
Da tatuagem na mama
Já estou farto desta merda
Só me apetece dar um grito
Sois todas umas corrumbeiras
Ide todas levar no pito.
[excerto do Testamento da Comadre de 2000]
Testamento do Compadre [ uma rapariga da vila lê o testamento a um rapaz ] Quando tocares no apito Não o mostres a ninguém Apenas à namorada Para ela o tocar também Não sei que raio vos deu Parece que é comichão Passais a vida a coçar O instrumento com a mão. Sois todos uns paneleiros que não valem 2 vinténs Ninguém quer de vós saber Até vos mijam os cães. Alguns vêm de propósito Para meter o focinho Mas aquilo que nós queremos É que leveis no cuzinho. Alguns metem nojo Com o paleio que têm Se isto é tão ruim Porque diabo cá vêm De vós me vou despedir Ó grande rapaziada Não gostais de raparigas Juntos fazeis marmelada. [excerto do Testamento do Compadre de 2000] |
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